Fonte: Estadão com edição da Redação
Clima aconchegante, hospitalidade e belezas naturais não faltam em João Pessoa. A capital paraibana, que já disputou espaço com dois grandes destinos turísticos da região – Recife e Natal –, hoje é uma das principais escolhas dos turistas nacionais e internacionais. E não pretende parar por aí. Com o Polo Turístico Cabo Branco, que começa a funcionar gradativamente no próximo verão, o governo da Paraíba espera acrescentar 2,5 milhões de turistas por ano aos números de João Pessoa; em 2024, a cidade recebeu 1,4 milhão de visitantes.
Com parques aquático e temático, quase dez hotéis e roda- gigante de 80 metros de altura, o Polo Turístico Cabo Branco ficará no ponto mais oriental da América continental e tem previsão de estar totalmente completo em 2027. De acordo com o governo da Paraíba, o novo complexo já conta com o Centro de Convenções de João Pessoa e dez empreendimentos com contratos assinados, com a expectativa de incrementar a capacidade hoteleira em 14 mil leitos.
Maior complexo turístico planejado em execução no Brasil, o Polo Turístico Cabo Branco se localiza no extremo sul da capital, em uma área abundante da Mata Atlântica, no limite com três Unidades de Conservação. Pela proximidade com a vegetação nativa, o projeto foi recusado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas um acordo feito em 2015 entre a gestão estadual, o Ministério Público e o Ibama garantiu a aprovação do plano.
Cabo Branco: Incentivos fiscais
“O investimento do Estado, em subsídios e com o centro de convenções, ultrapassa R$ 500 milhões, e o da iniciativa privada, R$ 2,7 bilhões”, afirmou o governador. Até dezembro de 2027, explicou Azevêdo, as empresas contarão com isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre produtos fabricados na Paraíba e a dispensa do Diferencial de Alíquota do ICMS (Difal) e de tributos sobre itens comprados fora do Estado para equipar o Polo Turístico Cabo Branco.
Como parte dos incentivos para empresas no complexo, Azevêdo acrescentou que há uma isenção de 90% sobre o preço dos terrenos. “O empresário só paga 10% do valor do lote, tem uma carência de 24 meses e quita esses 10% em60 meses. Então ele paga na verdade com o empreendimento que ele construiu”, disse o governador da Paraíba ao Estadão.
Além dos empreendimentos da iniciativa, estão em construção a Vila dos Pescadores – para a comunidade do Jacarapé, com moradias, centro comercial e uma Escola de Gastronomia, Hotelaria e Idiomas – e o Boulevard dos Ipês, uma via de 700 metros de extensão que ligará o centro de convenções à praia.
“O projeto é concebido de forma que essa avenida tem vários equipamentos. A população da cidade vai poder usufruir, sem a necessidade de estar hospedado lá. Os equipamentos dos hotéis que margeiam essa via, como lanchonetes e restaurantes, são voltados para dentro e para fora. Além disso, você tem parques, com day pass”, contou Azevêdo. “A roda-gigante está na ponta dessa avenida, no interior. Pela própria altura, ela passa de 80 metros, terá um visual extraordinário.”

A atração será da WAM Experience, que pretende também trabalhar ali com o setor de eventos e viagens de negócios. “O projeto do nosso hotel une três torres integradas. Em cada uma delas, planejamos um tipo de produto diferente: uma voltada para o público corporativo, outra focada em hotelaria turística de luxo e a terceira no formato de flats ou timeshares, ideal para famílias que passam uma ou duas semanas no local”, explicou o CEO da marca, Lucas Fiuza.
Avaliado em R$ 500 milhões, além da roda-gigante, o empreendimento conta com 480 leitos hoteleiros, shopping a céu aberto, vila gastronômica, espaço para videogames e área para shows e eventos. Está previsto ainda um parque temático com montanha-russa, carrossel e torre de queda. A entrega da primeira etapa está marcada para 2026, com a conclusão total em 2029.
“Estamos muito animados, não apenas porque não estamos sozinhos, mas também pela sinergia entre vários players e o acompanhamento do mercado. Tudo isso traz mais segurança para o empreendedor”, afirmou Fiuza. No Nordeste, a WAM Experience planeja ainda o retrofit de um resort no Ceará e um novo empreendimento em Alagoas, já em construção.
Viajantes do Sudeste predominam
João Pessoa vem despontando entre os lugares mais procurados e tem atraído o interesse de quem não a conhecia. Em uma lista da plataforma Booking.com, com destinos tendência para 2025, a capital da Paraíba aparece em meio a Tromso (Noruega), Willemstad (Curaçao) e San Pedro de Atacama (Chile).
De janeiro a julho de 2025, o Aeroporto Internacional Castro Pinto, de João Pessoa, registrou com 1.067.507 passageiros, um crescimento de 19,4% na comparação com os sete primeiros meses do ano passado. A procura pela cidade é tão expressiva que, entre 13 de dezembro de 2025 e 1º de fevereiro de 2026, a Azul terá 230 voos extras, com cerca de 32 mil assentos, um aumento de 120% em relação à alta temporada 2024/2025.
Cada vez mais turistas se interessam pela combinação de cultura local, gastronomia e belezas naturais. É o caso da jornalista Júnia Rodrigues, de 36 anos, moradora de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A primeira viagem ao Nordeste teve como destino Maragogi (AL) e Porto de Galinhas (PE), mas logo decidiu voltar e conheceu lugares como Fortaleza, Natal, Canoa Quebrada (CE) e Jericoacoara (CE).
Neste ano, a mineira foi à capital paraibana em um período especial, o mês das festas juninas. “O que eu queria mesmo era experimentar o Nordeste com a festa junina. Pensei: ‘Preciso conhecer o Nordeste nessa época, porque a festa junina é raiz. Faz parte da cultura nordestina, é muito forte’. E não é que deu match total? Gente, é muito bom!”
Júnia não é a única mineira atraída pela Paraíba; o Estado representa o terceiro maior fluxo de visitantes. São Paulo (22,36%), Pernambuco (16,67%), Minas Gerais (11,93%), Distrito Federal (6,53%) e Rio Grande do Norte (6,03%) estão entre os que mais enviam turistas a João Pessoa, segundo o Boletim de Monitoramento de Indicadores Turísticos, elaborado pela Coordenação de Inteligência de Dados da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur).
Com dados de junho, o último levantamento mostra que, entre os turistas estrangeiros, os maiores números vêm dos Estados Unidos (16,32%), Argentina (13,89%), Paraguai (8,25%), França (7,64%) e Portugal (6,94%).
Preservação do meio ambiente
Com a efervescência do turismo na região, o governo da Paraíba decidiu pôr em prática o plano do fim da década de 1980. “Infelizmente, por uma sucessão de erros ao longo do tempo, desde a distribuição dos lotes à inviabilidade, muitas vezes pela não implantação da infraestrutura necessária, ele terminou sendo arquivado”, disse ao Estadão o governador João Azevêdo.
“Quando nós chegamos ao governo em 2019, decidimos que íriamos recuperar esse projeto e fazer acontecer. Tivemos de enfrentar dificuldades, até de invasões, de pessoas que usaram a área pública. Com a chegada do centro de convenções, que é a âncora do projeto, isso começou a mudar. Nós decidimos enfrentar todas as questões fundiárias, de ocupação ilegal, e conseguimos liberar a área”, contou o governador.
No lugar onde está sendo erguido o polo turístico, há rios, falésias, fauna e vegetação, preservando cerca de 42% da cobertura florestal da Mata Atlântica em João Pessoa. Como equilibrar o desenvolvimento econômico com preservação da natureza e do estilo de João Pessoa, que atrai muito turista em busca de conhecer uma capital com jeito de cidade pequena?
“É evidente que qualquer crescimento, principalmente na área do turismo, gera impactos positivos, mas você tem de ter um cuidado muito grande. Por isso, nós estamos investindo em mobilidade e na segurança pública. Colocamos dentro do polo duas unidades: uma do batalhão ambiental e a outra voltada para o atendimento ao turista”, respondeu o governador da Paraíba.
Em julho de 2024, o governo estadual firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal da Paraíba (MPF-PB). Com o objetivo de conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade, o poder público na época assegurou a implementação de cercamento do Parque das Trilhas, além de projetos de desassoreamento, dragagem e reflorestamento da mata ciliar dos rios Jacarapé e Aratu e da definição de padrões de sustentabilidade e planejamento ambiental para os empreendimentos.
O governador ressaltou que os hotéis do polo estão sendo construídos com um recuo em relação às falésias. “Essa área de 100 metros fica lá totalmente preservada.” De acordo com ele, o Parque das Trilhas tem 570 hectares preservados no entorno do polo. “É um projeto que tem sustentabilidade e viabilidade econômica”, afirmou Azevêdo.